Muito se tem falado de limites e ainda bem. Os limites protegem-nos, são o meio verbal e não-verbal que nos permite balizar o que é aceitável ou não para nós. Os limites possibilitam a expressão de valores e necessidades que são importantes para cada um. São uma barreira saudável que delineia onde “o outro acaba e nós começamos”. É certo que somos seres em permanente conexão e relação com os outros, fazemos parte de uma família, de uma mesma espécie, somos um todo e desejamos a liberdade. No entanto, é expetável e saudável, que na construção da nossa identidade e individualidade, vamos também percebendo quem somos separado do outro, respeitando as liberdades e privacidades inter-individuais.
É na adolescência que a identidade e a individualidade vão ganhando contornos mais nítidos, e na busca por esses contornos, vem naturalmente alguma oposição e desafio, necessários para o crescimento e estabelecimento da individuação, autoconfiança e respeito individual. Neste espaço de oposição perfeitamente natural, muitas vezes é onde surge alguns conflitos e crises familiares. E é na crise que se cresce e aprende. É tarefa necessária ao desenvolvimento humano saudável, um adolescente dizer que não e discordar, quer seja dos pais, dos pares, dos namorad@s, ou da sociedade.
Quando o adolescente é impedido ou punido por pôr limites, sem espaço para a negociação, uma zanga que poderia ser saudável, pode se tornar numa tristeza escondida ou numa raiva desmensurada. E das duas uma, ou estamos a germinar um adulto inseguro, incapaz de dizer não e impor a sua voz ou dignidade, ou a germinar, por outro lado, um adulto muito chateado com a vida incapaz de dizer sim ou colocar-se no lugar do outro. Estes só são exemplos mais rígidos, dentro de um espectro de possibilidades, do que pode acontecer e são cenários que normalmente estão associados a problemas e sofrimento psicológico.
Não só um adolescente deve pôr limites, como pode ser ajudado e incentivado a fazê-lo. E como pode ele aprender? Com o exemplo primeiro que tudo: Observando os pais, os cuidadores e os adultos a fazê-lo – em casal, com o chefe, com o senhor da caixa do supermercado, com as seguradoras, com a família alargada, mas principalmente na relação com eles. Na bonita crise que é a adolescência, os limites vão ser testados dentro da família, vão ser gritados ou vão sendo suprimidos, e os pais devem permanecer firmes e assertivos nesta interação – negociando, ensinando e amando. Não incondicionalmente, mas amando com condições e limites saudáveis e razoáveis para ambas as partes, com espaço para a aceitação incondicional da pessoa que estes adolescentes se estão a tonar.
Podemos e devemos ajudar os adolescentes a conhecerem-se melhor, refletindo sobre os valores que são importantes na família ou sociedade e se eles se identificam ou não. Podemos também ajudá-los a rotular emoções e necessidades para que estes saibam mais rapidamente identificá-las e por consequência expressá-las. Outras estratégias de regulação emocional e comunicação não violenta de limites, podem também ser aprendidas com a ajuda de um psicólogo.
Que os “Nãos” dos adolescentes de hoje, sejam os “Sins” do futuro destes adultos. Sim ao respeito, à assertividade, ao amor-próprio, à privacidade, ao bem-estar e à dignidade.
Maria Inês Silva – Psicóloga Júnior Conhecer.te