
Em dezembro de 2023, cerca de um quarto da População Mundial vive em países afetados por conflitos e violência. Todos nós, seja onde estivermos, podemos passar por situações de violência ou conflito no dia a dia, tal como situações de paz e bem-estar.
Em todo o mundo existe guerra, harmonia, conflitos, tensões, discordâncias, morte, injustiças, acordos, perdão e paz. Em todos nós existem conflitos armados e resoluções. Internos ou externos. Eles existem na relação connosco próprios, na relação com a família, com os amigos, com a comunidade, com o país e com o mundo. A Guerra e a Paz começam dentro de nós, começam na mesa de Natal. Existem nas relações, nas emoções, nas palavras; nos manifestos e gestos; nas interações e ações.
Na nossa cultura, o mês de dezembro e o Natal, estão associados ao nascimento, ao milagre, à paz, luz, amor, família, religião, prendas, ao Menino Jesus ou Pai Natal. Para muitos, o Natal é vivido com paz, calor e amor. Para outros esta época significa guerra, frio, conflito, solidão e falta de compaixão.
Numa data tão simbólica das relações familiares e afetos, as fogueiras de emoções são acesas, e para cada um(@) de nós, as chamas podem ser de diversas formas, temperaturas e intensidades. As labaredas podem ser de tristeza, podem ser de alegria. Há fogueiras que aquecem e unem, ou então, as que incendeiam, matam, separam e destroem. Também há fogueiras neutras, de simplicidade, sem grande cor, com labaredas de indiferença ou sem significado. Há fogueiras de todas as cores, neste Dezembro de 2023.
Existem fogueiras que não conseguimos controlar, mas existem fogos que temos o poder de decisão de acender, alimentar ou apagar. Neste Natal podemos escolher os fogos que iniciamos e mantemos, e processar e sentir aqueles que estão fora das nossas mãos. Podemos escolher alimentar as chamas da Paz, onde estamos e onde somos.
É possível termos um papel na resolução de algumas guerras e conflitos, promovendo a Paz, no que somos e fazemos todos os dias, já que a Paz, tal como é referido pelas Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) “É mais do que a mera ausência de guerra. A paz é a presença de Justiça, de Igualdade, de Liberdade, de respeito pelos Direitos Humanos, de Inclusão, de Sustentabilidade. A Paz implica a existência de condições físicas, sociais, económicas, políticas, culturais e ecológicas que apoiem o desenvolvimento, em harmonia, de todos os cidadãos e cidadãs.” Está nas mãos de todos nós decidirmos ter comportamentos pró-sociais e não violentos. Ao estabelecermos relações de confiança, cooperação, solidariedade e harmonia, cuidarmos da nossa saúde mental e lutarmos pelos Direitos Humanos, estamos a promover a Paz e a prevenir a Guerra. O Natal pode ser uma época potenciadora destes comportamentos.
Com esta reflexão sugiro, que possa olhar os conflitos que surgirem nesta época, nomeadamente na mesa do Natal, como uma oportunidade de contribuir para a paz na família, lidando com estes de uma forma não violenta. Assim, deixo algumas sugestões baseadas nas orientações da OPP, que podem ajudar a lidar com os conflitos de uma maneira pacífica.
Primeiro, pode definir o problema/conflito de forma clara, descrevendo os comportamentos e ações concretas, sem apontar o dedo ou criticando diretamente a outra pessoa. Todas as partes envolvidas devem estar em modo de cooperação para a resolução deste conflito, e não de competição. Alimentar o interesse e confiar que é possível resolver o problema/conflito, pode ajudar na sua resolução. Em cooperação é possível explorar soluções alternativas, permitindo que tod@ @s envolvid@s tenham espaço para participar e apresentar as suas perspetivas. Escutando, acolhendo e usando a criatividade e inovação, é possível a procura de soluções conjuntas. Após várias soluções serem postas em cima da mesa, ambas as partes podem dar espaço à reflexão sobre as vantagens e desvantagens de cada solução, procurando aquela que crie o máximo benefício para ambos (se a solução escolhida não resultar, existem outras que podem recorrer). Não está em causa quem “ganha” o conflito, mas sim qual a solução que embarca mais vantagens para todos, sabendo que não há soluções perfeitas. Por fim, todos se devem comprometer com a solução negociada em conjunto, deixando espaço para os ajustes, cedências, tolerâncias, empatia e respeito pelos limites de cada um, necessários à implementação eficaz da solução.
A Conhecer.te deseja boas resoluções de conflitos, negociações e comunicação não violenta neste Natal! Desejamos também, que possa respeitar e iluminar as fogueiras, daqueles, para quem, esta época não significa calor e alegria. A Paz e o Amor começam em si. No Natal e sempre!
Maria Inês Silva
Psicóloga da Equipa Conhecer.te